O terceiro episódio do EndosferaCast abordou o tema comunicação interpessoal e direta. Além da âncora Camila Lustosa, sócia fundadora da Santo de Casa Endomarketing, participaram do programa Daniel Costa, CMO e Customer Success no Best Way Group Brasil, e Renata Bidone, palestrante, mentora e coach na Renata Bidone People Development.
No entendimento de Camila, “uma comunicação efetiva, bem-feita e com qualidade é uma possibilidade para todo mundo.” Contudo, ainda é um grande gap encontrado nas organizações, como aponta a pesquisa O Trabalho Importa. O dado foi corroborado por Daniel, que enxerga a comunicação interpessoal cada vez pior no ambiente corporativo. Esse cenário tem um forte impacto no bem-estar das pessoas, no engajamento dos colaboradores e nos resultados das companhias.
“Palavras são convites”
Renata citou Tony Robbins ao afirmar que a qualidade da nossa vida depende da qualidade da nossa comunicação. Para a mentora, palavras são convites: “podem ser um chamado para a colaboração ou para a resistência.”
Segundo ela, a forma de expressão vai além do que é dito: envolve o não-verbal, o silêncio, o tom de voz, o olhar e a gesticulação. Já a interpretação desses sinais, de acordo com Camila, acontece a partir do nosso próprio repertório e entendimento de mundo. Esses filtros pessoais podem facilitar ou dessincronizar a troca entre emissor e receptor.
Confiança para colaborar
Daniel frisou que o que nos tornou humanos foi a linguagem – ela expandiu nosso cérebro para que estabelecêssemos ligações, criássemos comunidades e prosperássemos enquanto espécie. “A gente precisou dela para colaborar. E elemento fundamental anterior à colaboração é a confiança”, apontou.
De acordo com Renata, “a confiança parte da crença de que o outro quer o meu bem. Mesmo que ele fale alguma coisa desconfortável para mim, está me cuidando, e posso me colocar vulnerável para ele.” Se a comunicação não acontece, não há maneira de instaurar essas relações com segurança.
O poder da escuta
Segundo Daniel, o primeiro passo para melhorar a comunicação interpessoal é resgatar o valor da escuta. “A gente ainda exalta mais a afirmação do que a questão”, lamentou. Segundo ele, essa é uma habilidade que, apesar de difícil de desenvolver, conta com uma facilidade: o agente que quer aprimorá-la é mais passivo. Basta ouvir, não há uma ação concreta a fazer.
Mas para aperfeiçoar o ouvido, é preciso estar presente. Na sua opinião, o poder de influência é uma consequência da capacidade de escuta. Ele ilustrou como essa conexão pode fazer a diferença: “quando recebo um e-mail de naoseiqueme@empresa.com.br, vou atender aquele pedido de qualquer jeito. Se for da pessoaquerespeito@empresa, meuamigo@ ou meuparceirodealmoco, vou ter mais prazer em fazer meu trabalho para aquela pessoa, vou colaborar. Não é só trabalhar com o outro, é trabalhar para o outro”.
Apesar de o remoto e a ascensão da tecnologia ter dificultado esse tipo de interação, é possível realizá-la. Além disso, algumas organizações já buscam saídas para possibilitar mais “olho no olho”. Contudo, não são somente as empresas que devem investir no desenvolvimento da comunicação de seus colaboradores. Essa deve ser uma busca individual.
Autorresponsabilidade na comunicação interpessoal
Autorresponsabilidade é chave para aprimorar a comunicação interpessoal. “É um aspecto que precisamos trabalhar muito na nossa cultura. Focamos muito no que está do lado de fora: o outro que precisa aprender a comunicar ou a empresa que precisa dar o treinamento”, observou Renata. Daniel concordou: “só eu posso mudar a minha realidade de comunicação.”
Ele relatou que, em diagnósticos de organizações, os colaboradores ouvidos em grupos de pesquisa nunca se sentem responsáveis pelos problemas de comunicação das empresas. “São sempre as outras áreas, as outras pessoas. Nunca sou eu. Existe uma dificuldade enorme de tomar para si a responsabilidade”, analisou.
É importante que todos os envolvidos estejam comprometidos em alinhar a comunicação, defendeu Renata. Por exemplo, se alguém fala de uma maneira ríspida, que causa desconforto, o ouvinte precisa se encorajar e dizer para pessoa como recebe aquela mensagem. “Se não, fica tudo depositado na mão de um e o restante fica passivo, de braços cruzados, esperando que aquela pessoa acorde mais gentil. Se o outro não muda, sigo me queixando. Essa é uma posição vitimizada que nos tira poder, porque não a protagonizamos”, provocou.
Inteligência emocional na comunicação interpessoal
A falta de iniciativa para atuar na comunicação é percebida por Renata: “Aí entra um trabalho pessoal e emocional de entender como o indivíduo pode evoluir nessa frente, o que o impede de dizer as coisas que precisa, ciente de que é parte daquilo e de que sua omissão ou intervenção gera um efeito”. Para ela, essa trava se coloca anteriormente. É uma questão de ousar, lidar com a ansiedade, com o receio do impacto, e com a frustração que muitas vezes isso gera.
Na sua visão, às vezes os recursos de capacitação estão disponíveis, mas existem bloqueios. A pessoa até sabe o que precisa fazer, mas não consegue pôr em prática. “Ela tem crenças de que se falar alguma coisa vai abalar o relacionamento, o outro vai ficar chateado, ou pode receber algum tipo de agressividade”, exemplificou. Por isso, a inteligência emocional também é um fator que precisa ser aprimorado e reflete na comunicação interpessoal.
Comunicação interpessoal e emoção
Para Daniel, toda troca produz uma emoção. Se somos negligentes com a comunicação, menos escutamos, menos transacionamos e mais sozinhos ficamos. Assim, é preciso ter especial atenção a conversas que geram uma autodefesa dentro da relação, confirmou Renata. É quando o instinto de preservação leva a um isolamento ainda maior.
“Se eu me isolo, não fortaleço nem desenvolvo as minhas emoções. E nessa solidão, nesse vazio que sobra, aparece espaço para depressão e ansiedade. Porque a gente precisa também da tristeza, como precisa da alegria. Ter esse contraste das emoções é fundamental para vive-las na sua plenitude”, disse Daniel.
Esse é um ciclo que impacta inclusive na saúde mental. A ciência já comprovou que a ocitocina, hormônio relacionado à construção de vínculos, reduz níveis de estresse durante as interações.
Fortalecer a comunicação interpessoal beneficia todas as áreas da vida. No próximo artigo, traremos mais pilares que podem transformar essas trocas, promovendo relações mais confiantes e produtivas.