A sociedade precisa de lideranças que promovam bem-estar físico e psicológico. E isso não pode ser só discurso. Carla Rocha, professora e CEO (Chief Executive Officer) da Carla Rocha Communication, acredita que é imprescindível ter ações concretas no dia a dia que possam melhorar a qualidade das conversas. Valer-se da comunicação positiva é uma alternativa para fazê-lo. Usar o endomarketing a seu favor, também. Aqui na Endosfera da Santo de Casa, abordamos esses temas para tornar as empresas lugares melhores para se trabalhar.

Segundo Carla, é urgente que os líderes encontrem uma forma de comunicar que seja assertiva, pragmática e orientada para resultados, mas sem perder o foco nas pessoas e na forma como lidamos com elas. “Hoje falamos muito em liderança transformacional, buscamos a humanidade das organizações. Os colaboradores querem se sentir inspirados e saber que seu trabalho importa”, ressalta. E aí entra a comunicação positiva.
Comunicar sem julgamento
Miguel Capelão, professor e CCO (Chief Culture Officer) na PHC Software, revela que praticamos pouco e mal alguns princípios básicos da comunicação positiva. “Isto é grave em termos de saúde mental, porque leva a mal-entendidos. A carência que temos de encontrar respostas baratas é terrível, pois inferimos coisas e não damos tempo para ter certezas, nem para criar uma boa estratégia sobre o tema. Muitas vezes fazemos diagnósticos errados ou precipitados”, observa.
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Quando estamos no campo emotivo, a tendência é chegar a conclusões rápidas. Por essa razão é importante não responder imediatamente, exercitando o não-julgamento, já que nossa inclinação é julgar as pessoas. Afinal, ir à procura da confirmação das nossas crenças e expectativas é mais fácil do que desafiá-las. É indispensável treinar para não cair nessas comodidades.

“Temos de estar ali expectantes e recolher dados. Não podemos deduzir algo com base somente em uma ação, só logramos fazê-lo sobre padrões”, alerta Capelão. Ou seja, é imperativo que haja repetição de um determinado comportamento para que possamos criar uma tese sobre aquela pessoa. Contudo, o professor considera que estamos muito imediatistas hoje em dia. Ao mínimo episódio, nós julgamos.
Comunicar sem agressividade
“Se quero que a pessoa trabalhe para o bem de todos, não posso afugentá-la. Tenho de trazê-la para mim – e, para isso, não posso agredi-la”, justifica Rocha. Ela expõe que pequenas expressões, muitas vezes, dão a percepção de agressividade, causando a perda das pessoas. Tais palavras podem até surtir efeito no curto prazo, pois o medo e a ansiedade são capazes de mover os colaboradores, mas a motivação logo termina se a liderança é tóxica.
Na interpretação da professora, todos queremos influenciar os outros para alcançar nossos objetivos. E não influenciamos nada se não tratarmos as pessoas como elas gostariam de ser tratadas. “Está na hora estudar como estamos nos comunicando e nos relacionando com quem está à nossa volta – somos todos agentes de evolução”, provoca. A comunicação positiva pode ser uma ferramenta para isso.
Comunicação positiva com respeito
Capelão aponta uma postura comum em culturas orientais que demonstra profundo respeito e que nós, latinos, não temos como hábito: não atropelar a fala da outra pessoa. “Nós falamos sempre em cima uns dos outros e não esperamos que raciocínio do interlocutor finalize para que depois possamos falar”, analisa.
O problema dessa postura, conforme o professor, é que paramos de escutar. Seria impossível fazê-lo, pois nosso cérebro é sequencial e, quando se fala, já não se ouve. Por isso, ele recomenda que, “ao ser interrompida, a pessoa se cale, pois o outro já não está escutando. Seu cérebro está ocupado com a resposta que quer dar.”
Comunicação positiva com otimismo
O tempo de escuta na comunicação produtiva também possibilita que o cérebro tire o foco dos componentes negativos e procure os aspectos mais razoáveis daquela narrativa. Capelão afirma que todos temos ideias preconcebidas e fabulamos na nossa cabeça: “costumo dizer que nossa vida é 10% de situações que nos sucedem e os outros 90% é a história que contamos sobre elas. Como humanos, por natureza, nosso viés é negativo.”
Ele argumenta que absorvemos a parte ruim em poucos segundos e demoramos quase dez vezes mais para começar a captar o lado bom dos acontecimentos. “É essencial que o discurso comece sempre pela parte positiva. Ao se deparar com um desafio, ao apresentar uma ideia disruptiva, primeiro se anuncia o lado bom para depois comentar as possíveis dificuldades”, indica o professor. Isso porque o otimismo tem um impacto significativo na saúde mental e psicológica.
Apesar disso, Rocha lembra que é vital ter cuidado para não dourar a pílula. As adversidades devem ser mencionadas, mas sem diminuir o outro: “temos de ser firmes com os problemas e suaves com as pessoas.”
Comunicação positiva com transparência
Para que a comunicação positiva funcione, Capelão acredita que, em primeiro lugar, ter total transparência é primordial. Na sua visão, é inconcebível criar um ambiente autêntico e que ofereça segurança psicológica sem ser transparente – inclusive a nível estratégico. É mandatário ter abertura para questionamentos, críticas e sugestões. “Os colaboradores só conseguem falar à vontade se compreendem exatamente o que está ocorrendo. A teoria de que nem todas as pessoas estão preparadas para a informação é uma falácia”, manifesta.
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Os colaboradores necessitam saber da realidade completa – seja ela boa ou ruim –, avalia o professor. Não pode haver surpresas. Se a companhia ainda não sabe a solução para alguma questão, é preciso assumir essa responsabilidade e dizer isso com toda a clareza. Tal postura elimina rumores e suposições.
Comunicação positiva com proximidade
“Talvez o mais importante para que comunicação positiva e saúde mental andem juntas seja a proximidade”, declara Capelão. Ele crê que, quando uma organização dedica recursos para conhecer seus colaboradores, os resultados aparecem.
Isso depende fortemente da ação das lideranças intermediárias: “trabalhar ativamente a proximidade com os líderes de segunda linha é elementar, pois são quem operacionalizam as coisas. Eles são a chave, já que estão no dia a dia das ações, na correção de comportamentos e outras atitudes que fazem a cultura na prática”.
